Somos
marianos, para quê?
Pe. Matheus Bernardes
Congresso de outubro 2
Queridos dirigentes da Família de Schoenstatt,
Seguindo a linha de reflexão de nosso Congresso de Outubro,
agora temos que nos perguntar “somos marianos para quê?”. O Pe. Alexandre já
nos respondeu ‘por que Maria’ e a Ir. Cacilda nos respondeu ‘por que Maria em
Schoenstatt’... Agora estamos ante a tarefa de encontrar uma resposta à
pergunta já indicada.
Se tivéssemos a possibilidade de fazer a mesma pergunta, ao
nosso Pai e Fundador, o que ele nos responderia? Em parte, já vimos algo dessa
resposta na palestra da Ir. Cacilda, contudo, gostaria de novamente retomar o
tema para que possamos encontrar a resposta que estamos buscando hoje de manhã.
“Aqui nos encontramos
simplesmente ante grandes princípios do Reino de Deus e ante perguntas e
estruturas fundamentais da pedagogia divina, que não aceitam nenhuma dispensa.
E isso porque justamente é o amor educador de Deus que nos coloca estas mesmas
exigências. Não é à toa que o amor eterno testemunha de si mesmo: ‘E mesmo que
uma mãe se esquecesse de seu filho, eu não me esquecerei de ti. Eis que te
gravei na palma das minhas mãos.’ (Is 49,15s). O amor é, portanto, quem põe
exigências tão grandes a Deus-Educador em sua relação conosco. Este mesmo amor
dá a origem e o sentido de ser da Mãe de Deus.”
Podemos, pois, afirmar que a base de nosso ser mariano é o
mesmo amor que sustenta a existência e a missão de Maria Santíssima, também nos
sustenta. O mesmo amor que criou Maria Santíssima e lhe entregou a missão de
ser permanente colaboradora de Cristo em toda a obra da Redenção, também nos
criou e também nos deu uma missão. Somos marianos, então, para sermos
re-criados no amor, redimidos no amor e enviados no amor.
No entanto, não podemos ficar com uma idéia vaga da palavra
amor, como infelizmente hoje há pelo mundo afora. Na atualidade, o amor é
compreendido simplesmente como um sentimento, o que deixa de fora toda a força
que lhe é própria, por exemplo, a capacidade de plasmar e configurar uma
existência e uma missão, como nós vimos no texto de nosso Pai e Fundador sobre
nossa querida Mãe.
1. Uma rápida leitura dos sinais dos tempos
Quando tratamos de responder a pergunta “somos marianos para
quê?”, devemos respondê-la a partir de nosso contexto vital. Não podemos
afirmar que somos marianos “no ar”. Se somos marianos é porque acreditamos
profundamente que este amor, do qual falávamos há pouco, é uma resposta aos
desafios do mundo hoje.
Não quero ser exaustivo na análise do tempo, porém gostaria
simplesmente de esboçar um esquema sobre a pós-modernidade e sobre a
globalização para que tivéssemos alguns elementos a mais para nossa resposta.
A modernidade, que teve seus começos lá com o filósofo
francês Renée Descartes e sua maior expressão no iluminismo alemão, sobretudo
no pensamento de Immanuel Kant, não se trata simplesmente de uma corrente
filosófica ou uma forma da expressão do espírito humano, mas chegou a ser uma
forma de nossa própria existência no mundo. O ser humano, a partir da
modernidade, é no mundo um ser moderno.
Insisto: ser moderno não significa simplesmente que nós
usamos a roupa da moda, nos comunicamos pela internet, temos duas ou três
linhas de telefonia celular e viajamos de avião. Ser moderno é um modo de
existir. Posso ver nos seus rostos uma grande interrogação... claro, nós não
tivemos a oportunidade de conhecer outro modo de existir e, portanto, a
modernidade passou a ser nosso referente básico. Por exemplo, quando me refiro
a um modo de existir no mundo, estou afirmando que é absolutamente impossível
pensar nossa vida sem a técnica. É impossível pensar a nossa vida sem a
comunicação, sem o petróleo, sem os computadores, etc.
Entretanto, ser moderno, como já afirmei, é algo mais
profundo ainda. Nós somos modernos porque nós nos relacionamos como homens e
mulheres modernos, isto é, para nós a autonomia do sujeito no mundo é
indiscutível. Chega a ser tão indiscutível que muitas vezes nos deparamos com a
seguinte adversativa: “Tudo bem que você pense assim! Mas eu penso de outra
forma... respeitemo-nos!”. Esta forma de tolerância mútua é fruto da
modernidade... que jogue a primeira pedra quem nunca disse algo parecido a um
amigo, aos pais ou aos filhos.
Outra forma de existir como modernos é acreditar
profundamente na força da razão humana. A razão humana pode quase tudo... o que
ainda não pode é questão de tempo, logo teremos vacinas para doenças
incuráveis, poderemos ir até Martes e mais longe ainda. Poderemos solucionar o
problema da fome e da miséria no mundo. E tudo isso, graças a nossa razão!
Ainda bem que existem grandes pensadores no mundo... eles encontrarão as
soluções para todos os nossos problemas. Acreditar na razão é ser moderno!
E mais um elemento: somos seres históricos! Nós somos construtores
de história! Portadores de uma grande passado, responsáveis pelo nosso presente
e gestores de um enorme futuro! Quantas vezes em nossos ramos não nos dissemos
algo assim... a Liga das Mães no dia 18 de agosto deste ano, repetiu esta frase
várias vezes. Temos a consciência de que podemos criar algo grande e que nossa
liberdade é quase ilimitada. O destino do mundo está em nossas mãos. Acreditar
em nossa capacidade de construir história é ser moderno!
Porém, já são muitos os pensadores que indicam que esta
modernidade está acabando... Já se fala de uma pós-modernidade. O que significa
isso? Significa que hoje o imperativo do sujeito já não é tão forte como foi.
Não é estranho escutar dos jovens a palavra “tribo”. E pertenço à tribo dos
emo’s, eu pertenço à tribo dos punk’s, eu pertenço à tribo dos underground’s. O
sujeito se tornou coletivo... Não respondo simplesmente a partir de mim mesmo,
mas respondo a partir do grupo ao qual eu pertenço. Talvez os exemplos que
tenha dado sejam um pouco tendenciosos... Mas não é à toa que nós nos chamamos
“família” de Schoenstatt. Pertencer ou não a um grupo determina muito a nossa
existência no mundo.
Por outro lado, a razão moderna vem sendo criticada... Parece
que o ser humano não é somente uma máquina de cálculo avançada, capaz de
resolver problemas matemáticos a uma velocidade incrível. Ainda mais, parece
que o cérebro humano não foi feito simplesmente para pensar... Nós também
sentimos, nós também nos relacionamos, nós também nos amamos. A propósito,
justamente esta capacidade de amar é um dos maiores problemas de toda a nossa
existência humana. Se tivéssemos resolvido este problema há algo tempo, talvez
muita coisa já estaria resolvida em nossas vidas. Enfim, parece que a
supremacia da razão, pelo menos como ela foi entendida na modernidade, já não é
tão assim hoje. Inclusive, estamos passando da ditadura da razão para a
ditadura dos sentimentos. E nem precisamos ir muito longe para verificar isso;
quem nunca escutou esta frase: “Você já entrou no Santuário? E o que você
sentiu?”... Pobre daquele que não tenha sentido nada!
E por outro lado, já não podemos falar de uma liberdade
infinita, já estamos falando de uma liberdade que é limitada ao tempo e ao
espaço. Gostaríamos de fazer tantas coisas, no entanto agora mesmo estamos
sentados aqui neste auditório, próximos ao Santuário e tentando responder à
pergunta “somos marianos para quê?”. Infelizmente, não podemos estar ao mesmo
aqui e ali... e mais ainda, estamos percebendo que sim somos construtores da
história, porém o rumo desta mesma história não depende única e exclusivamente
das nossas decisões. Importante, aqui não estou falando de um poder
sobrenatural que comanda a história, estou simplesmente dizendo que o ser
humano percebeu que seu futuro depende de muitos mais fatores do que
simplesmente de sua capacidade de decisão, dito de outra forma, de sua
liberdade. A liberdade é limitada.
Junto a este processo do surgimento da pós-modernidade, nos
encontramos ainda como fruto da modernidade, especialmente do desenvolvimento
da técnica moderna, nos encontramos com a globalização. Insisto novamente, ser
globalizado não é simplesmente acordar cada dia da semana em um país distinto,
ter a caixa de entrada do correio eletrônico com correspondências em diversos idiomas.
Ser globalizado não é possuir cartão de milhas de uma companhia aérea que me dá
o direito de viajar em outras tantas. Ser globalizado também não significa que
eu ande pela Rua 25 de Março, em
São Paulo, e me encontre com produtos de todos os países do
mundo, dando uma preferência, claro, para os produtos chineses.
O que significa ser globalizado? Significa que nós estamos
entrando em uma nova etapa da cultura humana, onde o momentâneo, o instantâneo
é fundamental. Quanto mais pontual seja a experiência do ser humano em uma
determinada situação, mais importante esta será e maiores repercussões esta
trará para a vida. Entramos na idade da velocidade...
Contudo, há algo mais nisso tudo. Estamos entrando em uma
cultura do fragmento. O que significa isto? Pelo fato de que tudo deve ser
instantâneo, estamos fragmentando a nossa experiência como pessoas no mundo.
Portanto, o nosso conhecimento também está fragmentado... Não precisamos ir
muito longe para encontrar um exemplo desta fragmentação. Pobre daquele que
sofre de alguma doença um pouco mais complicada, terá que passar em ‘Deus-sabe-quantos’
especialistas para que um diagnóstico seja a apresentado. Mais ainda: o
cardiologista receita um remédio para o coração, mas este remédio ataca o
estômago, logo o pobre paciente vai parar no gastrologista, quem receita para
ele um remédio para o estômago que ataca os rins... logo, nefrologista... e
assim sucessivamente.
A cultura do fragmento, fruto da globalização e da
aceleração das experiências humanas no mundo, não traz consigo simplesmente a
fragmentação do conhecimento, como tivemos a oportunidade de perceber neste
exemplo da Medicina, mas também traz consigo a fragmentação da própria pessoa
humana, a fragmentação do eu... e isto é muito grave! Nossas experiências no
mundo já não possuem mais coerência, ou melhor, a única coerência que possuem é
o fato de serem fragmentos e como tais, não é necessário que estejam
logicamente unidos, não é necessário que sejam somente positivos... Hoje pode
ser bom, amanhã ruim, inclusive pode ser contraditório. O problema, insisto, é
que esta fragmentação está fragmentando a pessoa humana.
Meus queridos irmãos e irmãs na Aliança de Amor, este é o
tempo no qual estamos. Estamos profundamente mergulhados na pós-modernidade e
somos todos globalizados. Não temos como fugir desta situação... Mais ainda,
talvez nós que já temos alguns anos nas costas possamos afirmar que isso é
história do amanhã. Se assim é, podemos esquecer o crescimento de nossa Família
de Schoenstatt, pois aqueles que vêm depois de nós são mais pós-modernos e mais
globalizados ainda.
No entanto, estamos tratando de responder à pergunta “somos
marianos para quê?”. Remarco, nossa resposta a esta pergunta se dá em um tempo
determinado e este tempo é agora! Nós somos marianos para darmos uma resposta
para os desafios do mundo de hoje... e esta resposta que nós daremos se chama
Maria.
2. Somos marianos para vencer o grupo e formar comunidade
A formação de grupos hoje em nossa sociedade é praticamente
inevitável. Nós podemos comprovar esta formação especialmente entre os mais
jovens, como já foi citado. A formação de um grupo não necessariamente implica
a formação de uma comunidade, afinal de contas, como nos diz nosso Pai e
Fundador, comunidade é “estar um no outro, um com o outro e um para o outro”
(ineinander, miteinander und füreinander sein). Esta característica não
necessariamente existe no grupo.
Somente um esclarecimento importante: quando me refiro a
grupo não estou falando sobre grupo de vida ou grupo de oração, estou me
referindo a um coletivo de indivíduos, que não necessariamente estão unidos por
um vínculo mais profundo. Os grupos geralmente se constituem a partir de
interesses em comum, sejam eles positivos, sejam eles negativos. Em todo caso,
no mundo do trabalho nós nos encontramos com grupos, cujos interesses estão,
sobretudo, no âmbito do utilitarismo. No caso dos jovens, especialmente dos
adolescentes, os grupos estão relacionados à auto-afirmação do indivíduo... na
medida em que o grupo permita que “eu” me auto-afirme, o grupo tem o seu
sentido de ser.
Não obstante, como já podemos perceber esta formação do
grupo não necessariamente tem a ver com a nossa opção cristã de vida, algumas
vezes a formação de um determinado grupo é simplesmente a expansão do
individualismo... Deixamos de falar de individualismo no singular e começamos a
falar de individualismo em
coletivo. Esta opção não tem nada a ver com a nossa opção
cristã. O desafio, portanto, é formar uma verdadeira comunidade. Lendo um
trecho do livro dos Atos dos Apóstolos nos encontramos com uma figura feminina
que se reuniu com os Apóstolos e implorou com eles o Espírito Santo para que a
Comunidade-Igreja se formasse, essa figura é Maria.
Nem preciso dizer que a resposta nos parecia já bastante
conhecida: Maria se encontrava com os Apóstolos no momento inicial da Igreja.
Ela implorou junto com eles o Espírito Santo que transformou homens frágeis e
apontou à Igreja o caminho da vitória, como também nos indicou nosso Pai e
Fundador. Importante: o caminho da vitória apontado pelo Espírito Santo, que
foi intercedido por Maria Santíssima, não foi simplesmente o fato de a Igreja
ter passado por todos os desafios das heresias, nem pelo fato de a Igreja ter
vencido a pressão do Estado durante o final do século XIX. O caminho da vitória
da Igreja é justamente o fato de ela ter se mantido comunidade.
A salvação não é algo individual, a salvação é comunitária.
Nós nos salvamos somente na medida em que estivermos vinculados a uma
comunidade. Portanto, a verdadeira vitória da Igreja é ter se mantido fiel a
este propósito salvador. Lembremo-nos: Maria é a permanente colaboradora de
Cristo em toda a obra da Redenção... Portanto, ela também será sua colaboradora
na formação da comunidade daqueles que crêem em Cristo e que por Ele serão
salvos.
2.1. Somos marianos para ser família
Contudo, gostaria entrar um pouco mais em uma comunidade
muito especial, que ultimamente tem sido bastante atacada e se encontra
bastante frágil: a família. Antes, porém, voltamos a afirmar: somos marianos
para vencer o grupo e formar comunidade, somos marianos para vencer o grupo e
formar família.
A família em sua definição antropológica básica é o fruto da
união entre um homem e uma mulher. Remarcando: a união entre um homem e uma
mulher. Hoje, nos encontramos com diferentes formas de (entre aspas)
“famílias”: famílias mono-parentais, i.e. famílias constituídas somente por um
princípio parental, seja este princípio masculino ou feminino; famílias cujos
princípios parentais são do mesmo sexo, sejam eles do sexo masculino (o caso de
famílias com dois pais) ou do sexo feminino (o caso de famílias com duas mães).
A grande preocupação com toda esta situação é colocada nos filhos... o que será
deles?
Aqui nós nos encontramos com duas respostas dadas por Maria
Santíssima: a primeira está na linha da identificação sexual, que o homem seja
homem e que a mulher seja mulher, e a segunda está na linha do esclarecimento
do relacionamento entre homem e mulher.
2.2. Maria e o esclarecimento do papel do ser masculino
Mais que nunca o ser masculino vem sendo questionado. Tanto
assim que a revista Veja dedicou uma matéria especial ao “Super-herói
fragilizado – eles também choram”. A publicação desta matéria foi no ano 2002
e, de lá para cá, a situação não mudou muito.
O papel do homem dentro da sociedade se viu profundamente
questionado pelo fato de as mulheres conquistarem o mercado de trabalho e este
se vê, a partir de então, colocado em segundo plano. Tudo bem que as mulheres
aqui nos dirão que isto não é tão assim, pois ainda o salário dos homens é
superior ao das mulheres... tudo bem, mas somente pelo fato de as mulheres
terem um salário, o homem já vem se sentindo fragilizado. Pensem que o homem
foi o provedor da família durante séculos... Somente no que podemos chamar de
cultura ocidental, ele foi o provedor por mais 25 séculos. Uma mudança assim
traz, evidentemente, conflitos.
Além do mais, como nosso Pai e Fundador bem sinalizou o
homem possui um problema que é inato a sua condição masculina: o homem não
aceita que ele será e é pai. A paternidade é o maior problema para o homem... Assumir
que aquela vida, que não é a sua, está sob a sua responsabilidade aterroriza o
homem. E mais ainda, o homem não é naturalmente pai, afinal de contas, as
mudanças biológicas não acontecem em seu corpo, acontecem sim no corpo de sua
mulher. O homem não é pai como a mulher é mãe desde a concepção; ele será pai
somente depois do nascimento... muitas vezes bem depois do nascimento.
Ante esta crise, Maria dá uma resposta extraordinária. Como
o Pe. Alexandre nos falou ontem, Maria é mãe. A maternidade de Maria é
incontestável... Nós nos vinculamos a Ela como filhos e filhas. No caso do ser
masculino, o vínculo com Maria desperta sentimentos filiais profundos... Maria
é minha mãe! Somente um parêntese, nossa vinculação a Maria não se dá, em
primeiro lugar, através das idéias ou por causa de grandes tarefas, nós nos
vinculamos a Maria a partir de nossos afetos, nossos sentimentos. E isto se dá
especialmente porque Ela é mãe. O vínculo entre mãe e filho é o mais forte que
a psicologia conhece, portanto com Maria não será diferente.
Voltando ao ser masculino e sua dificuldade de ser pai.
Vinculando-se a Maria o homem se descobre filho... Por um mecanismo
inconsciente de contraposição, este experimentar-se filho leva o homem a
experimentar-se pai. O homem somente pode ser pai, na medida em que foi filho.
Quanto mais profunda foi a experiência de filialidade, mais profunda será a
experiência de paternidade.
Muitos devem estar pensando, mas nesse caso a experiência de
filialidade se dá em relação a uma mãe, no caso Maria Santíssima. Não nos
esqueçamos que Maria é o redemoinho da Santíssima Trindade, como nos diz nosso
Pai e Fundador. Logo, uma vez vinculado a Ela (e que este vínculo seja
profundo, afetivo), imediatamente o homem está vinculado a Deus Pai, ante quem
também se experimentará como filho e, por conseqüência, poderá ser pai.
Logo, o vínculo a Maria ensina o homem a ser pai. Vinculado
a Maria, o homem pode ser o princípio parental masculino dentro da família...
Também falávamos dos problemas que o homem possui hoje,
especialmente fato de estar fragilizado... Novamente, o vínculo a Maria, o
vínculo profundo e afetivo a Maria, faz com que o homem perca esta imagem de
provedor, pois não tem que ser a excelência da sociedade, tão pouco o homem
capaz de tudo, ele tem que ser simplesmente filho. E sendo filho, ele pode ser
frágil, pequeno, cheio de falhas, defeitos, dúvidas e angústias. Entretanto,
ele poderá ser quem ele tem que ser.
Homens, vinculem-nos a Maria!
2.3. Maria e o esclarecimento do papel da mulher
Se o homem está passando por uma revolução é porque a mulher
também está passando por uma revolução. Inclusive, uma revolução muito mais
complexa e turbulenta. Pensemos um pouco no fenômeno feminista... A mulher está
exigindo direitos iguais, ou melhor, a mulher está exigindo que seu
posicionamento na sociedade seja igual ao posicionamento do homem. Importante:
não somente no mercado de trabalho, mas em todos os âmbitos da vida.
Quais são as conseqüências? Como já foi constatado por
alguns pensadores de nosso tempo, a mulher já não necessita do homem para
nada... Nem para a reprodução, pois já há métodos muito avançados de fecundação
artificial que simplesmente descartam a presença do homem. E não pensem que
estou falando de um futuro macabro e distante... é a nossa realidade.
Contudo, como nos indica nosso Pai e Fundador, o maior
problema do ser feminino não está nesta revolução atual, mas sim na aceitação
de seu próprio ser feminino. A mulher simplesmente não aceita que é mulher... Esta
é a grande crise de sua existência. Não que ela queira ser homem; ela
simplesmente não aceita o fato de seu corpo ser feminino, pois assim sendo,
chama a atenção e ela, em sua constituição mais profunda, quer permanecer
intocada e não se tornar um objeto de desejo. No fundo, a mulher quer
permanecer eternamente virgem... Entendam esta palavra não somente em sua
conotação sexual, mas entendam-na em sua conotação de preservada, guardada,
reservada.
E quem é a virgem por excelência? Novamente, Maria
Santíssima. Aqui, porém, temos um elemento novo e muito positivo. No Antigo
Testamento, nos encontramos também com figuras de mulheres virgens. A
virgindade no Antigo Testamento era praticamente uma desgraça, pois a virgem é
infecunda, a virgem não produz fruto. Entretanto, em Maria nos encontramos com
uma outra virgindade: a virgindade fecunda, a virgindade de uma mãe.
Maria preserva o ser feminino em sua integridade máxima,
porém não como uma mulher fechada e amargada. Ela permanece virgem e é mãe ao
mesmo tempo. Inclusive mais, a maternidade de Maria consagra a sua virgindade;
Ela permanece virgem porque é mãe do Salvador. E aqui temos um ponto
fundamental para o ser feminino: a mulher está chamada a preservar a sua
integridade física e espiritual, dito de outra forma, a mulher está chamada a
preservar sua virgindade, todavia esta virgindade como a de Maria é fecunda.
A plenitude do ser feminino se dá no momento da maternidade,
no momento em que a virgindade se torna fecunda. Por isso, mulheres: olhem para
Maria e se vinculem a Ela. Ela vai ensiná-las a serem plenamente mulheres, a
serem fecundas sem perderem a sua integridade. E mais ainda, Maria vai
ensiná-las a serem realmente mulheres e não “homens de saia”, como muitas vezes
nós vemos na sociedade atual, mulheres que são mais másculas que os próprios
homens.
2.4. Conclusão deste tema
Somos marianos para vencer o grupo e formar comunidade!
Somos marianos para vencer o grupo e ser família! Os homens devem se vincular a
Maria para aprenderem a ser pais, com isto o princípio parental masculino da
família está salvo. As mulheres devem se vincular a Maria para aprenderem a ser
mulheres, com isto o princípio parental feminino está salvo. Salvando os princípios
parentais da família, esta está salva, a comunidade está salva.
Vinculem-nos profunda e afetuosamente a Maria Santíssima,
nossa querida Mãe!
3. Somos marianos para vencer o racionalismo e o sentimentalismo
Estamos passando de uma etapa do pensamento para outra...
mais preciso ainda, estamos passando de uma etapa de nossa experiência no mundo
para outra. Essas duas etapas, como nós mesmos já caracterizamos, são chamadas
de modernidade e pós-modernidade. A modernidade insistiu muito no uso da razão,
especialmente a razão cartesiana, e afirmava que tudo seria resolvido pela
razão. A pós-modernidade está cansada da razão e agora está sobre-acentuando os
sentimentos. Do racionalismo para o sentimentalismo.
Interessante notar que em nossos dias tanto racionalismo,
como sentimentalismo se misturam. Há pessoas que são extremamente racionais que
simplesmente conseguem analisar o mundo a partir da razão, a partir de uma
análise fria e objetiva da realidade. Contudo, estas mesmas pessoas possuem em
suas casas uma pirâmide que concentra a energia que vem Deus-de-onde e
de-que-raios. Depois de passarem horas na frente de um computador realizando
contas e mais contas, chegam em casa e se deitam dentro da pirâmide para se
sentirem bem.
Talvez eu esteja dando exemplos um pouco distantes de nossa
realidade diária. Olhemos para situações um pouco mais corriqueiras... Olhemos
para dentro de nossa querida Igreja. A principal forma de exercer um apostolado
hoje em dia é através dos sentimentos. Inclusive, muitas vezes somos obrigados
a escutar: “E choraram? Ah, porque se não choraram, não valeu a pena todo o
esforço daquela oração...” Escutamos isso com bastante freqüência... E ainda
mais pelo simples fato de ser brasileiros... Não podemos ver a bandeira do
Brasil sendo hasteada que uma lágrima já cai.
Porém, também nos encontramos com o outro extremo... e este
bastante presente em muitos ramos de nosso querido Movimento: nos encontramos
com o racionalismo. Começamos uma reunião e de repente alguém começa a devagar
sobre a importância de um determinado símbolo. Atenção: o símbolo se realmente
é um símbolo não precisa de muita explicação, ele se explica por si mesmo. Em
todo caso, estamos reunidos e queremos explicar o porquê daquele símbolo e
quais são as suas conseqüências para a missão de Schoenstatt e da Igreja... Além
do mais, nossa origem é alemã e os alemães são muito bons para a razão,
portanto fundamentos sempre encontraremos e, inclusive, acharemos frases
bonitas e difíceis de entender, mas justamente porque são difíceis de entender
são importantes. Puro racionalismo...
Como vencer esta tendência racionalista? Como vencer esta
tendência sentimentalista? Novamente, recorrendo àquela que é equilíbrio, nossa
querida Mãe. O ser humano não é só razão, como a pós-modernidade já bem
indicou. Contudo, o ser humano não é só sentimento, emoção. Nós sim temos
razão, temos uma capacidade racional, mas nós também temos uma capacidade
sentimental, emotiva muito importante.
Quando nos vinculamos com Maria Santíssima, em primeiro
lugar nos vinculamos a partir de nossos afetos, nossos sentimentos. Nossa
vinculação a Ela deve ser cheia de afeto, cheia de carinho. Porém, esta
vinculação não fica somente aí... Nós já escutamos várias vezes durante este
Congresso que Maria é o redemoinho da Santíssima Trindade, Ela não reserva nada
para si, Ela eleva tudo para a Santíssima Trindade por seu Filho, Jesus Cristo.
O mesmo acontece com a nossa vinculação afetiva com Maria Santíssima. Ela não
permitirá que fiquemos simplesmente no sentimento, através do sentimento,
através de todo o nosso carinho para com Ela, nossa razão, nossa inteligência
também será captada. Inclusive mais, todo o nosso ser será captado pela
vinculação com Maria.
Nosso Pai e Fundador afirmava que uma vez corretamente vinculados
a Maria, o núcleo de nosso ser (o que ele chama de Gemüt) será imediatamente
captado e estaremos profundamente enraizados no mundo da graça. Nossa
vinculação com nossa querida Mãe abre a nossa razão para enxergarmos que a
salvação vem de Jesus Cristo, que a salvação se dá em comunidade, portanto que
precisamos formar Igreja, formar comunidade, como já vimos anteriormente. Nossa
vinculação com Maria Santíssima abre nossa razão, abre nosso entendimento e
permite que estejamos, de verdade, seguindo os passos de seu Filho Jesus
Cristo.
É fundamental que tenhamos presente este aspecto,
especialmente no momento de fazermos nosso apostolado. Nossa vinculação com
nossa querida Mãe nos dá pistas para exercermos corretamente nosso apostolado.
3.1. A pastoral
mariana
Na medida em que estivermos profundamente vinculados a
Maria, temos a certeza de que nosso apostolado será também mariano. Inclusive,
podemos falar de uma pastoral mariana, como o próprio Pe. Alexandre, quem nos
falou ontem, gosta de mencionar. O que significa realizar uma pastoral mariana?
Em primeiro lugar, nós devemos ser profundamente gratos à
Providência Divina, pois nos deu em Schoenstatt duas formas pré-claras de
pastoral mariana: a Campanha da Mãe Peregrina e a Pastoral dos Santuários de Schoenstatt.
Inclusive, podemos dizer mais ainda, a Campanha da Mãe Peregrina é uma
prolongação da própria Pastoral do Santuário de Schoenstatt, uma vez que Maria
Santíssima e seu Santuário, com as três graças, peregrinam de casa em casa, de
família em família.
Porém, exercer uma pastoral mariana não é simplesmente abrir
as portas do Santuário ou fazer réplicas de uma imagem e que estas circulem
pelas cidades. A pastoral mariana é uma maneira de exercer nosso apostolado,
onde nós convidamos a muitos outros a se vincularem à nossa querida Mãe. E como
estas pessoas devem se vincular a Ela? Devem estar vinculadas a Ela de uma
forma correta, isto é, nós devemos fomentar o vínculo profundo e afetivo com
Maria Santíssima.
Um vínculo profundo significa que nós não buscamos
simplesmente que as pessoas se vinculem à nossa querida Mãe quando possuem
necessidades, doenças, problemas familiares e financeiros, problemas de
relacionamento, etc. Quando nós falamos de um vínculo profundo estamos falando
de um vínculo que perdura e que tende a crescer, dito de uma forma mais
conhecida para nós: estamos falando de uma Aliança de Amor. Fomentar o vínculo
profundo com Maria é fomentar que as pessoas a nós confiadas, no apostolado,
possam realmente chegar à profundidade de uma Aliança de Amor, isto é, de uma
verdadeira troca de corações com a Mãe de Deus.
Nós nos propusemos, como Família de Schoenstatt brasileira,
a conduzir muitas pessoas à Aliança de Amor até 2014, quando estaremos
celebrando 100 anos da mesma. Portanto, nós nos comprometemos a conduzir muitas
pessoas a um vínculo profundo com Maria Santíssima. Nós nos comprometemos a
conduzir muitas pessoas a viver no seu dia-a-dia a Aliança de Amor.
Por outro lado, nós também falamos de um vínculo afetivo.
Importante: aqui estou falando de um vínculo afetivo e não um vínculo
sentimentalista com a Mãe de Deus. Fica claro que um vínculo afetivo deixa de
lado toda forma de vínculo racionalista, entretanto ainda está a tentação de
promover única e exclusivamente um vínculo sentimentalista.
Insisto, quando nós falamos de um vínculo afetivo, estamos
falando de colocar o núcleo da pessoa em contato com o mundo da graça através
de Maria Santíssima. Ela capta todo o nosso ser captando o nosso afeto. Se, ao
realizarmos o nosso apostolado, nós simplesmente fomentamos os sentimentos
daqueles que a nós são confiados, não estamos permitindo que o núcleo do ser
humano entre em contato com a graça... Portanto, não estamos realizando uma
pastoral mariana como deveríamos.
A pastoral mariana fomenta o vínculo afetivo com Maria
Santíssima, logo deixa de lado toda “choradeira”, toda “terapia grupal em forma
de oração”. A pastoral mariana abre o ser humano para um contato vital com
Maria Santíssima e por Ela com o Deus Uno e Trino. Espero que este ponto esteja
claro, todavia não precisamos cair no extremo de transformar-nos em pedras sem
sentimentos... Em nossa vinculação a Maria, podemos e devemos expressar todo o
nosso sentimento, todo o nosso coração.
E mais um detalhe importante, a pastoral mariana por
fomentar um vínculo profundo e afetivo, fomenta ao mesmo tempo a educação. Uma
vez que o ser humano está profundamente vinculado a Maria, ele começa a ser
educado pela mãe. E aqui temos um elemento central de nossa pastoral mariana: o
Capital de Graças. Tudo aquilo que nós podemos e devemos oferecer à Mãe de
Deus, tudo deve ser transformado em Capital de Graças: nossas alegrias (sim,
nossas alegrias!... não pensemos que o Capital de Graças é algo macabro que só
aceita sacrifícios, também nossas alegrias devem ser oferecidas para o Capital
de Graças), nossas conquistas, nossas lutas, nossos sacrifícios, nossos
sofrimentos. Tudo é oferecido para o Capital de Graças... e é justamente por
estas ofertas que nossa querida Mãe nos educa. Ao colocar em suas mãos nossa
oferta, nós estamos permitindo que Ela seja a nossa Educadora.
Então, meus queridos irmãos e irmãs na Aliança de Amor,
quando nós falamos que queremos ser marianos para vencer o racionalismo e o
sentimentalismo, nós estamos falando que queremos vencê-los através de nosso
apostolado, através de uma pastoral mariana, através de um apostolado que se
expressa na Pastoral de nossos Santuários de Schoenstatt e na Campanha da Mãe
Peregrina.
Vinculemo-nos a Maria Santíssima para que assim muitos
homens e mulheres de nosso tempo possam também se vincular profunda e
afetivamente a Ela! Exerçamos como Família de Schoenstatt uma pastoral mariana
para sermos resposta a nosso tempo!
4. Somos marianos para alcançarmos a verdadeira liberdade dos filhos de
Deus
A passagem da modernidade para a pós-modernidade, como já
mencionei, trouxe consigo a descoberta de que a liberdade humana é limitada.
Nós acreditávamos que poderíamos ser os grandes construtores da história, que
todas as nossas decisões e reflexões sobre os destinos do mundo aconteceriam...
Como nos enganamos!
Muitos acreditavam que o destino da existência humana seria
salvo pela “infinita” capacidade do ser humano para tomar decisões... Decisões
que eram baseados em pensamentos sérios e profundos. Novamente, nos
enganamos... o destino do mundo não passou (e ainda não passa) simplesmente
pela nossa capacidade de decisão, mas por muitos outros fatores que o ser
humano, a partir de sua visão do mundo (a partir de sua cosmovisão),
simplesmente não domina.
Exemplos? Os dois maiores fracassos do século XX: a Primeira
e a Segunda Guerra Mundial. Vivíamos em um tempo efervescente, o pensamento
moderno se encontrava em todos os seguimentos da sociedade ocidental da
primeira metade do século passado. Contudo, não nos bastou a consciência de
nossa capacidade de decisão... Realizamos as duas guerras mais sangrentas de
toda a história. A suposta consciência de liberdade do ser humano o conduziu
não ao sucesso, mas sim ao fracasso. Milhões de vidas perdidas...
Ainda nos encontramos com esses exemplos em nossos dias... Infelizmente
a realidade das guerras ainda nos ronda. Inclusive, aqui no Brasil... a
violência em alguns centros urbanos de nosso país se assemelha bastante a um
cenário de guerra. Nossa conclusão: a tão sonhada liberdade infinita do ser
humano não é tão infinita assim. O tão sonhado destino da sociedade humana que
encontraríamos a partir de nossas decisões, ainda não chegou. O que muitos
chamavam de uma utopia intra-histórica, i.e. a realização de uma utopia dentro
da história, ainda está por acontecer... e muito possivelmente nunca aconteça.
Podemos dizer que existe certa desconfiança com relação à
liberdade humana na pós-modernidade. Para ser mais preciso, há uma forte
desconfiança com relação à afirmação de uma liberdade infinita do ser humano.
Esta desconfiança nos pode conduzir a certo conformismo... A propósito, este
conformismo é um mal que afeta 10 em cada 10 brasileiros. O que fazer? Se
cairmos no conformismo, nem precisamos nos preocupar com o futuro, porque
afinal de contas este não depende nós.
Porém, olhemos novamente para a “Bendita entre as mulheres”,
contemplemos novamente sua imagem resplandecente e tratemos de encontrar uma
solução para estes desafios que nos circundam. É certo que a nossa liberdade é
limitada, é certo que nosso poder de decisão não é ilimitado, como um dia
sonhamos que fosse... No entanto, nós estamos destinados a uma liberdade
infinita, somos chamados a participar de uma liberdade infinita, a liberdade do
próprio Deus.
Quando nós contemplamos a “Mulher revestida de sol”, quando
olhamos para nossa querida Mãe nós nos encontramos com um exemplo de alguém
que, mesmo possuindo uma liberdade finita, já participa da liberdade infinita
de Deus. Possuir uma liberdade finita não é nenhuma falha, é simplesmente pelo
fato de sermos criaturas de Deus. E nesse caso, Maria Santíssima aparece como
uma obra prima feita pelas mãos do Deus Criador.
Este reconhecimento da limitação de nossa liberdade, como
nós mesmos podemos contemplar em Maria, e ao mesmo tempo o reconhecimento da
vocação de sermos chamados a participar de uma liberdade infinita, o que também
contemplamos em Maria, permitem que estabeleçamos uma relação fundamental para
a nossa existência no mundo: Deus é nosso Criador e nós somos suas criaturas.
A vitória sobre o pecado original vem justamente deste
reconhecimento, afinal de contas, a tentação da serpente era que Adão e Eva
seriam “como deuses”, i.e. seriam ilimitados, criadores. A verdadeira condição
do ser humano no mundo é a condição de criatura, a condição de ser limitado,
porque ao reconhecer-se limitado, imediatamente reconhece a sua vocação
ilimitada dada por Deus mesmo.
4.1. Viver nossa vocação à liberdade dos filhos de Deus
em nosso trabalho
E quais seriam as conseqüências práticas deste
reconhecimento? São inúmeras, contudo, gostaria de enfocar uma conseqüência que
toca a todos nós: ao reconhecermos limitados em nossa liberdade e ao mesmo
tempo chamados à liberdade infinita dos filhos de Deus, nós temos uma nova atitude,
uma postura com relação a nosso trabalho.
O que é o trabalho humano? Não é nada mais que a
participação humana no ato criador de Deus. Dito de outra forma, através de
nosso trabalho nós cooperamos com a criação de Deus, somos co-criadores. Que desafio!
Que tarefa! Que alegria para nós, criaturas, sermos chamados a participar da
própria criação.
Neste sentido, ao contemplarmos nossa querida Mãe, ao
contemplarmos a vocação plena da humanidade realizada em Maria Santíssima,
i.e. ao contemplarmos em sua pessoa uma liberdade finita que já goza da
participação da liberdade infinita, nós também adquirimos uma nova postura ante
nosso próprio trabalho.
O fato de sermos marianos não permite que façamos de nosso
trabalho um absoluto em nossas vidas. Ser mariano é um excelente remédio para
os “workaholics”, os assim chamados viciados em trabalho. Se o meu
trabalho é uma participação no ato criador de Deus, se encaro meu trabalho
desde minha condição de criatura que participa da criação de seu Criador, este
não pode se converter em um absoluto para a minha existência. O único absoluto
é ato criador de Deus... Nós simplesmente participamos desse ato. Logo, se
assim encaramos nosso trabalho, se encaramos nosso trabalho a partir da
contemplação da pessoa de Maria Santíssima, não seremos viciados em trabalho,
não seremos “workaholics”.
Mais ainda, pelo fato de encararmos corretamente nosso
trabalho a partir de nossa vinculação com Maria, temos que afirmar que nosso
trabalho não será simplesmente uma fonte inesgotável de riquezas materiais. Não
quero fazer nenhum discurso contra a riqueza adquirida pelo trabalho honesto
(importante: trabalho honesto!). O que simplesmente quero remarcar é que, para
nós, marianos, o trabalho não deve ser encarado simplesmente como um pote de
ouro, o trabalho é a participação na criação de Deus.
Portanto, a nossa satisfação no trabalho não deve ser única
e exclusivamente desde a perspectiva financeira... ‘Vou conseguir este ou
aquele trabalho porque me dá mais ou menos dinheiro’. Se tiver a possibilidade
de fazer uma opção de trabalho é porque naquele trabalho em concreto estarei
contribuindo ainda mais para que a criação de Deus atinja sua plenitude.
Evidentemente, existe uma satisfação dada pelo lado financeiro também... Esta,
contudo, não pode ser a mais importante e, muito menos, a única.
Finalmente, o fato de sermos marianos faz com que busquemos
trabalhos honestos, trabalhos que nos conduzam à participação na criação de
Deus e não na criação de uma conta bancária de algum paraíso fiscal. Insisto,
há uma tentação de “sermos como deuses” ainda é uma realidade em nosso dia. Uma
forma de “ser como deuses” é possuir uma conta bancária bastante recheada, o
que permite que eu realize todos os meus caprichos. Logo, não importa a forma
que eu consiga esta conta recheada... Se for uma forma ilegal, não importa,
pois o fim justifica os meios.
Pelo simples fato de sermos marianos, nós devemos repudiar
esta forma de “trabalho”. O enriquecimento desonesto, uma realidade muito
palpável em nosso Brasil,
deve ser rechaçado com todas as nossas forças. Importante: não devemos
simplesmente rechaçar esta forma de enriquecimento para nós, também devemos
rechaçar toda forma de enriquecimento desonesto e todos aqueles que o praticam.
Vejam só! Ser mariano implica também que nós pensemos bem na
hora de usarmos o nosso direito de voto, o nosso direito de cidadão.
Infelizmente, estamos em um país cuja classe política, não em sua totalidade,
mas grande parte dela, se caracteriza por formas ilegais de enriquecimento.
Portanto, ao contemplarmos a pessoa de nossa querida Mãe, nós também somos
chamados a exercer nossa cidadania de uma forma coerente e conseqüente,
especialmente hoje em nosso país.
Queridos irmãos e irmãs na Aliança, ao dizer que somos
marianos, ao dizer que queremos nos vincular mais e mais à nossa querida Mãe,
nos encontramos imediatamente com conseqüências práticas para a nossa vida. Em
Maria, nós contemplamos a verdadeira liberdade dos filhos de Deus... Ela em sua
liberdade limitada, em sua liberdade de criatura se encontrou com a liberdade
infinita de Deus. Esta é a nossa vocação... Hoje nós temos certeza de que Maria
já goza desta liberdade infinita, mas nós um dia também gozaremos dela.
Entretanto, nós já podemos aqui na terra começar a viver esta vocação à
verdadeira liberdade dos filhos de Deus e um campo para que vivamos esta
vocação é nosso meio de trabalho.
Vinculemo-nos mais e mais à Maria Santíssima para que Ela
nos ensine a viver já hoje a verdadeira liberdade dos filhos de Deus!
5. Somos marianos para lutarmos juntos pela integridade da pessoa humana
A vida humana se encontra em perigo em nossos dias... Seja a
vida que está por nascer, seja a vida que está completando o seu ciclo. A vida
humana é valorizada somente na medida em que ela é produtiva ou na medida em
que é bonita. Pensar em uma criança que será simplesmente um gasto para a
família é quase um absurdo, por isso é melhor que essa vida nem chegue a
existir. E o que dizer de um idoso ou uma idosa que hoje significam simplesmente
um gasto para a família e para o Estado, por isso é melhor extirpar essa vida
antes que os gastos aumentem muito.
Talvez os dois exemplos que acabo de citar sejam muito
radicais, pensemos em algo um pouco mais sutil... Pensemos no esforço que
muitos (especialmente muitas) fazem para manter não somente a forma, mas também
a beleza. Muitos acham um absurdo usar um cilício como auto-flagelação, não
acham, porém, que é um sacrifício supra-humano uma lipoaspiração. Em todo caso,
a busca da eterna juventude e da beleza que não tem limites também é um
atentado à vida humana.
O corpo humano está programado para viver no máximo 70-75
anos... e não adianta, quanto mais queremos estender nossa vida, mais danos nos
fazemos a nós mesmos. Parece que agora estou me aproximando à postura de que
devemos eliminar os mais idosos de nossa sociedade. Não! Se Deus nos dá a graça
de viver 80, 85, 90 anos, temos que encarar isso como uma graça de Deus... E
como graça, não compete ao ser humano determinar suas conseqüências, a graça é
de Deus e somente a Ele pertence.
Contudo, viver 70-75 anos também é uma graça e se chegou a
hora do encontro face-a-face com Deus, não há sentido nenhum que a ciência, por
mais positiva que ela seja, busque caminhos para a sobre-vida humana. A aparência
humana em seus 70 anos é bem distinta à aparência em seus 20-30 anos. Não há o
que se fazer, não podemos frear o curso normal de nossa existência.
Como conseqüência da globalização, falamos que hoje vivemos
em uma sociedade fragmentada, uma sociedade praticamente desintegrada. Isso é
um enorme desafio para a nossa existência, pois afinal de contas nossa
existência é única, nossa existência possui somente uma peça... O fato de
desprezar a vida humana que está por nascer ou a vida que está chegando ao seu
crepúsculo é um sinal dessa fragmentação. A criança que está sendo gerada e o
idoso são vistos como fragmentos e como tais podem ser simplesmente eliminados.
Por outro lado, toda a luta pela eterna juventude e pela
eterna beleza também manifesta a fragmentação, a desintegração da vida humana.
Sem a beleza, sem um “corpo sarado” (como se diz por aí) não há sentido
existir. A beleza se tornou uma espécie de absoluto... Temos que usar as marcas
mais sofisticadas e caras do mundo, temos que nos parecer ‘Giseles Bündchen’, ‘Leonardos
Di Caprio’, etc., temos que usar Deus-sabe-quantos litros de botox para assim
sermos felizes. Uma pena...
5.1. Contemplar Maria como a Imaculada, a mulher feita de
uma só peça.
E aqui, ante todos esses desafios, devemos contemplar
novamente a “Bendita entre as mulheres”. Maria aparece como aquela que busca,
em um tempo de fragmentação e desintegração, a integridade da vida humana.
Nosso Pai e Fundador gostava de usar muito uma expressão ao se referir a Maria
Santíssima como a Imaculada: Maria é uma obra prima feita de uma peça só.
Quando temos a oportunidade de contemplar uma obra de arte, seja ela de
madeira, pedra ou metal, quanto mais simples a obra for, quanto menos peças a
obra possuir, mais bonita esta será. O mesmo acontece com Maria, a Imaculada. O
fato de Ela ter sido concebida sem o pecado original, ou formulado
positivamente, o fato de Ela ser a cheia de graça, como nos diria o Evangelho
de Lucas permite que Ela seja uma mulher de uma só peça, uma mulher sem
fissuras em sua constituição mais profunda.
Ao contemplarmos a figura de Maria, podemos nos maravilhar
com o destino da Criação de Deus. Maria é uma criatura perfeita de Deus...
n’Ela o desígnio criador e salvador de Deus, pelos méritos de seu filho Jesus
Cristo, se realizou em
plenitude. Em nós, este mesmo desígnio ainda está por se
realizar. Logo, toda vida humana é potencialmente uma realização plena da
Criação e da Redenção de Deus... Insisto, toda vida humana, não somente aquela
“sarada” ou super-produtiva, como nos indica o mundo e o mercado de hoje.
Se formos realmente marianos devemos nos esforçar pela não
legalização do aborto, pelo respeito ao idoso, pela dignidade de todo ser
humano. Se formos marianos, devemos anunciar que não são necessárias dietas
loucas, roupas caras e mil e uma inversões plásticas para que possamos valer
algo. O ser humano vale pelo que ele é. Não são simplesmente os fragmentos de
sua existência que possuem algum valor, fragmentos que são conhecidos como
beleza, força de trabalho, inteligência, etc. Todo ser humano vale o que é e
quem nos ensina a valorizar o ser humano em sua totalidade é também a “Bendita
entre as mulheres”.
Entretanto, não podemos nos enganar: o fato de não buscarmos
as dietas loucas, as roupas mais caras e as intervenções plásticas não
significa que não valorizemos a nossa saúde. Ser mariano implica também um
especial cuidado com o corpo. Devemos cuidar de nosso corpo, pois é também por
ele que manifestaremos a grandeza do ser mariano, a grandeza do ser cristão.
Maria nos ensina a valorizar a vida humana... Maria nos
ensina a respeitar a vida humana em todas as suas etapas... Em Maria, podemos
contemplar a verdadeira vocação do ser humano que é viver profundamente da
graça de Deus. Novamente, vinculemo-nos a Maria Santíssima para que Ela nos
ensine a valorizar a vida humana como esta deve ser valorizada e também para
que possamos lutar pela integridade da pessoa humana!
6. Somos marianos para aprender a amar
E para concluir esta reflexão, é necessário afirmar que somos
marianos para aprender a amare. A escola de Maria é uma escola de amor; nós
queremos freqüentar esta escola para aprender a amar. Primeiramente, queremos
aprender a amar a Deus, assim como Maria o amou. Maria é a “Serva do Senhor”,
esta sua vocação também pertence a cada um de nós, pois nós também devemos ser
servos e servas do Senhor. Somente podemos sê-lo na medida em que aprendermos a
amar a Deus. Maria em sua vida terrena certamente passou por muitos claros e
escuros da fé... Imaginemos quais devem ter sido seus sentimentos no momento da
anunciação e também aos pés da cruz. No entanto, Ela nunca deixou de amar a seu
Deus.
Seu amor foi tão grande que Ela se foi associada a seu
Filho, nosso Redentor, como a Co-Redentora. Assim como na Criação, Deus pôs no
centro um casal, Adão e Eva, na Nova Criação, nos encontramos com outro casal:
Cristo e Maria. E não pensemos que Maria foi associada a Cristo por certos
privilégios que Ela possuía, não! Ela foi associada a Cristo por seu amor... e
seu amor de mãe, amor de quem permanece fiel mesmo estando aos pés de uma cruz.
Não podemos compreender a vida de Maria e, muito menos, a Redenção de Cristo se
não desde a perspectiva do amor, desde a perspectiva da loucura de amor de Deus
por sua criatura humana, que mesmo tendo pecado, mesmo tendo virado as costas
para Ele ainda é convidada a participar de sua própria vida.
Esta loucura de amor não é estranha a nós... Nós também
somos convidados a fazer parte deste amor redentor de Deus. Quem nos ensina a
tomar parte neste amor é justamente aquela que por amor foi associada ao amor
redentor, novamente nossa querida Mãe Santíssima, Maria. Ela nos ensina a amar
a Cristo como Ela mesma o amou... Ela nos ensina a amar a Cristo em nossos
irmãos e irmãs... Ela nos ensina a amar a Cristo em nossa vida diária, como
acabamos de refletir. A loucura de amor de Deus pelo ser humano, loucura
manifestada em Cristo
Jesus, se torna muito mais próxima a nós por, com e em Maria.
Toda a pessoa de Maria é uma escola de amor... Nós, neste
próximo triênio, queremos nos aproximar desta pessoa grandiosa e queremos
pedir-lhe que nos ensine a amar mais e mais. Juntos, como Família de
Schoenstatt, estamos caminhando para o primeiro centenário da Aliança de
Amor... Novamente a palavra amor, Maria se aproximou a sua Família, Maria tomou
seu instrumento predileto, nosso Pai e Fundador, em uma Aliança de Amor.
Nós estamos nos preparando para celebrar (e queremos fazê-lo de forma
grandiosa, quem sabe enchendo os estádios do Morumbi, em São Paulo, do Maracanã,
no Rio de Janeiro, do Mineirão, em Belo Horizonte, e o Mané Garrincha, em
Brasília... isso sem falar nos demais estádios grandes dos outros dois
Regionais e do Nordeste, e claro que também levaremos uns 100.000
schoenstattianos do mundo inteiro para a Praça de São Pedro, em Roma)... Mas,
voltando ao nosso pensamento, queremos celebrar de forma grandiosa estes 100
anos da Aliança de Amor, porque por esta Aliança aprendemos a amar; porque por
esta Aliança podemos ensinar a tantos homens e mulheres de nosso tempo a amar.
Meus queridos irmãos e irmãs na Aliança de Amor, o Papa nos
convidou a permanecermos na escola de Maria e é exatamente isto que queremos
fazer durante este próximo triênio. E agora já sabemos porque queremos
permanecer nesta escola, já sabemos para que somos e queremos ser ainda mais
marianos:
- somos marianos para vencer o grupo e formar comunidade;
- somos marianos para vencer o racionalismo e o
sentimentalismo;
- somos marianos para alcançarmos a verdadeira liberdade dos
filhos e filhas de Deus;
- somos marianos para lutarmos juntos pela integridade da
vida humana;
- somos marianos para aprender a amar.
Muito obrigado!