ORAÇÃO DE CONFIANÇA


Confio em teu poder e em tua bondade, em ti confio com filialidade, confio cegamente e em toda situação, Mãe, no teu Filho e na tua proteção. Amém.

Seus corações inflamaram-se Hoerde – Impulso inicial para um movimento que transforma o mundo .

Seus corações inflamaram-se Hoerde – Impulso inicial para um movimento que transforma o mundo

Hna. Dr.a M. Nurit Stosiek  Vortrag beim Hörde-Treffen am 17. August 2019 in der Pilgerkirche Schönstatt, Vallendar
 
1 Hoerde – Final de uma competição entre a divina preparação do caminho e o percorrer humano do caminho

2 Hoerde – uma iniciativa aventurosa

3 Hoerde – um novo tipo de fieis leigos

4 O perfil do „tipo de Hoerde“ então e hoje
 O tipo de Hoerde é
  a personalidade consciente de seu valor e de sua missão que a partir de sua segurança interior é capaz de alcançar o mais elevado
  a personalidade amadurecida que contribui para configurar a sociedade „a partir do interior“ através de sua perseverante autoeducação

 o „novo cristão“ que conquista espaços para Cristo em todos os âmbitos da vida atual

5 Um movimento de fieis leigos que transforma o mundo
 
Caros participantes deste „Congresso jubilar centenário“!
 
Atualmente, jogos de escape live estão na moda. Trata-se da interação de vários participantes sobre o cenário de fundo de uma história. Dentro de um determinado espaço de tempo, os jogadores devem decifrar indicações e descobrir coisas que abram a porta para o próximo passo em direção à solução. O fascínio destes jogos consiste no fato de serem „uma aventura no mundo real“ (Scott Nicholson). O acontecimento de Hoerde que hoje nos ocupa é a final de um jogo no qual o jovem Padre Kentenich „compete“ com o próprio Deus. Ele fala de uma „competição entre condução divina através da lei da porta aberta e docilidade humana“1. Também aqui, o tempo de duração do jogo era limitado, entre 1912 e 19192 havia que decifrar as indicações de Deus e encontrar o caminho através de novas portas e espaços, até que no acontecimento de Hoerde, em 1919, se abriu o espaço para um movimento hoje mundialmente difundido. Queremos recordar este jogo realmente emocionante entre Deus e uma pessoa humana, um jogo que continua, sendo agora a nossa vez de atravessar portas e abrir novos espaços no sentido de nossa missão e em cooperação com nossos aliados celestes. Contemplemos mais de perto esta aventura de „indicação e preparação de caminho divinas e ousado caminhar humano“3.
 
1 Hoerde – a final de uma emocionante competição entre preparação de caminho divina e caminhar humano Em setembro de 1912, o jovem Padre Kentenich chega ao recém construído internato em Schoenstatt como professor, juntamente com os alunos de sete cursos do ensino secundário. Pouco depois, em outubro, torna-se inesperadamente seu Direito Espiritual em meio a uma revolução. Busca um caminho, a fim de orientar positivamente as energias dos alunos revoltados. Ao mesmo tempo, em setembro de 1912, tem oportunidade para conhecer melhor a Congregação Mariana durante um congresso em Treves. Descobre que ali a autonomia dos jovens poderia ser ativada. Contrariamente à opinião de seus colegas, empenha-se pela fundação de uma congregação mariana que finalmente (após a etapa intermediária da associação missionária) alcança, em abril de 1914. Seu interesse principal consiste em favorecer a formação do caráter e a autonomia através de atividades autônomas. Mais tarde afirma: Eu não queria „um excesso de devoção mariana. Jesus devia estar no centro“.4 Mas visto tratar-se de uma congregação mariana, nas palestras de maio de 1914 procura aproximar os jovens da Mãe de Deus. Graças à intensa reação espiritual dos jovens, reconhece „o imenso valor da devoção mariana. Desde então, estou apaixonadamente vinculado à devoção mariana“5. Busca um lugar para as assembleias, onde a congregação possa reunir-se sem ser perturbada. A Capelinha de São Miguel no vale está fora de uso e ele obtém da direção provincial licença para usá-la. Ao mesmo tempo, cai-lhe nas mãos um artigo sobre o advogado Bartolo Longo que chamou à vida um lugar de romarias mariano em Vale de Pompeia, Itália6. Um lugar de romarias pode, portanto, surgir sem uma intervenção divina extraordinária. Em Schoenstatt também poderia acontecer o mesmo? Pouco depois, eclode a                                                  1 J. Kentenich, Chave para entender Schoenstatt, in: Texte zum Verständnis Schönstatts, Vallendar 1974, p. 148228, 185. 2 O próprio Padre Kentenich cita este periodo de tempo. Descreve como Schoenstatt, em Hoerde, passoua existir como Obra autônoma e diz: „Então, a obra estava de pé. No decorrer de sete anos – von 1912-1919 – fora descoberta nos planos de Deus segundo a lei da porta aberta“ (ibid. 204) 3Ibid. 4 J. Kentenich, Palestra para Irmãs de Maria, 6.1.1929, manuscrito não editado. 5 Ibid. 6 Mais detalhes sobre a história do lugar de graças e de romaria Vale de Pompeia, assim como o texto integral deste artigo do P. Cyprian Fröhlich in: REGNUM, III/1968, 133-138.

primeira guerra mundial, muitos dos seus jovens terão que ir para os fronts e ele não poderá continuar a acompanhá-los diretamente. „Se eu conseguisse que a Mãe de Deus se estabelecesse aqui, eu teria realizado a minha tarefa“7. Sua profunda experiência pessoal aos oito anos de idade, quando sua mãe o confiou à Mãe de Deus no orfanato amplia-se agora no processo de fundação de 18 de outubro de 1914. Uma vez mais, emerge o pedagogo: no lugar da oração do terço de Bartolo Longo, propõe aos jovens que ofereçam como dádiva à Mãe de Deus a elevação máxima de sua autoeducação. Chega-se assim ao 18 de outubro de 1914. Deus conduz a outros passos: graças ao atuar dos congregados soldados na guerra, surge a ‚Organização externa‘ composta por alunos do secundário, estudantes universitários, jovens acadêmicos que combatem como soldados nos fronts. Ao estudar Vicente Pallotti, questionase se a organização externa não é mais uma indicação nos planos de Deus. Em carta de 22 de maio de 1916 escreve: „Se nossa Rainha deseja reunir a juventude culta ao seu redor através de nós – uma ideia demasiadamente abrangente para ser considerada imediatamente realizável – mas ao mesmo tempo demasiadamente bela e segundo o desenvolvimento atual das coisas não demasiadamente fantástica, não inteiramente impossível para ser simplesmente rejeitada.“8 Depois do final da guerra, o que em 1916 ainda não era possível avizinha-se: os jovens da organização externa insistem com o Padre Kentenich que desejam continuar a participar de Schoenstatt. Ele sonda a condução do Espírito Santo para saber se já chegou o momento. Por fim, vê nos persistentes pedidos dos ‚externos‘ o sinal.9 Em abril de 1919 dá luz verde para a fundação de novos grupos. No início de julho pede ao seu provincial para ser liberado do cargo de Diretor Espiritual „em vista da fundação de uma União de estudantes e professores“10 e o seu pedido é atendido. Em agosto realiza-se finalmente a histórica jornada de fundação em Hoerde, na qual o Padre Kentenich não está presente. 

Hoerde torna-se assim, de alguma forma, a plenificação do impulso fundacional de 18 de outubro de 1914. O jovem Schoenstatt sai da ‚casca de ovo‘11 da Congregação Mariana e inicia seu caminho como novo tipo de movimento autônomo. O acontecimento de Hoerde constitui a culminância de um maravilhoso plano divino. 

2 Hoerde – uma iniciativa aventurosa  Olhando o passado, é fácil reconhecer a cadeia de acontecimentos. Mas quando Padre Kentenich concorda em fundar a União Apostólica de Schoenstatt, trata-se de um passo no escuro. „A única linha pela qual eu podia orientar-me era a da fé prática na Providência que me conduzia passo a passo a avançar“12, escreve mais tarde. „Conhecedores da situação do mundo da sociedade e da Igreja na época podem supor a que ponto toda aquela iniciativa era
                                                 7 J. Kentenich, Alocução de 13.9.1966 para romeiros da Elsácia, França, in: Propheta locutus est. Vorträge und Ansprachen von P.J. Kentenich aus seinen drei letzten Lebensjahren, Vol. X 1966, Berg Sion 1997, 167-180. 8 A carta esté documentada em: Chave para entender Schoenstatt, in: Kentenich, Josef, Texte zum Verständnis Schönstatts, Vallendar 1974, 148-228, 176. 9 E. Monnerjahn escreve a respeito: „Padre Kentenich esperava por um sinal que devia consistir no fato de os interessados e envolvids, ou seja, os membros externos da organização externa não se deixassem influenciar nem pela confusão do pós guerra nem pelo regresso à vida civil, nem pelo seu aparente desinteresse e não desistissem da ideia de continuar com a organização externa“ (E. Monnerjahn, Padre Joseph Kentenich. Uma vida para a Igreja, Vallendar21979, 97). 10 Ibid, 97s. 11 J. Kentenich, 15. 10.1947, editado em: Estratégia da aliança de amor. Vorträge und Begleitbriefe der Oktoberwoche 1947, publicado e revisado por P. Heinrich Hug, Vallendar-Schönstatt 1997, 108. 12 Carta ao P. Geral Möhler 1956, in: Hug, Heinrich, Vergangenheit einholen. Zum 20. August 1919 Beiträge zur Geschichte Schönstatts 3, Vallendar-Schönstatt 2002, 569.
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uma aventura“.13 O acontecimento de Hoerde deu-se pouco meses após o término da guerra mundial. Depois desta „maior catástrofe do século XX, a Alemanha fica submersa no caos. A guerra desdobrara uma tremenda força destruidora, os governos monárquicos da Rússia, da Áustria e Hungria e Alemanha e suas respectivas ordens sociais autoritárias foram derrubados por revoluções. A situação social e a orientação cultural haviam sofrido profundas mutações. Nos meses que antecederam Hoerde, uma onda imensa de sobreviventes da guerra regressava, cuja maioria se organizava em grupos paramilitares para combater a nova ordem democrática. O desemprego reinava em grandes proporções, e além disso a população estava traumatizada pelas experiências da guerra. Assassinatos políticos desestabilizavam a vida pública. A luta pelo futuro sistema político na Alemanha levou a lutas nas ruas e uma situação próxima à guerra civil.  Padre Kentenich escreve na revista MTA: „A guerra abalou com força os esteios da ordem social atual. Um novo tempo bate violentamente às portas do presente e exige vigorosamente entrada. Os antigos marcos de delimitação vacilam e novas correntes intelectuais lançam-se pelo mundo como ondas tempestuosas do mar... A tarefa dos cultos consiste em colocar os trilhos da nova época, que se aproxima qual vento de tempestade.“14 Situemo-nos por um momento no contexto deste acontecimento e perguntemo-nos: o que teria eu feito então, a fim de direcionar os trilhos? O que faria eu hoje, diante de uma situação mundial em alguns aspectos semelhante à de então? Durante a jornada de Hoerde houve acaloradas discussões. Alguns membros da organização externa defendiam com vigor em favor uma orientação política, porque os católicos tinham finalmente obtido influência através do Partido do Centro Alemão. Outros viam como grande tarefa da época a tremenda questão social, provocada pela miséria do pós-guerra. No início de 1919 haviam-se discutido as mesmas questões na Congregação Mariana de Schoenstatt, sobretudo por parte dos congregados soldados que regressavam. Padre Kentenich explicara então aos responsáveis que, justamente devido às grandes mutações, a resposta devia provir de um nível mais profundo, ou seja, da formação de personalidades cristãs. Em Hoerde, esta visão também se impõe, graças aos congregados vindos de Schoenstatt.  O que leva o Padre Kentenich a partir da formação de personalidades? – Ele percebe que as mutações que seguem à primeira guerra mundial constituem o início de uma revolução total que nos próximos séculos mudará a sociedade mundial desde os seus fundamentos. Apercebe a vinda de „uma nova época da história da humanidade“15 um „novo tempo... com novas motivações e um novo rosto“16. Aponta por isso continuamente para que a reforma da situação não leva ao objetivo, porque não atinge uma mudança de atitude no coração das pessoas17.  É necessário um caminho novo de educação, tarefa esta que a Igreja deve assumir, se não quer perder o homem moderno.  A Igreja deve percorrer um caminho de educação, que responda às tensões a que o homem moderno está exposto e tenha em conta a sua sensibilidade.

3 Hoerde – um caminho novo para fieis leigos
                                                 13 Ibid. 570. 14J. Kentenich in: MTA 3, Nr. 7 vom 15.9.1918, 50. 15 J. Kentenich, Educação mariana, (Jornada pedagógica 1934), Vallendar-Schönstatt 1971, 99. 16 J. Kentenich, 11.4.1933, Palestra para Irmãs de Maria, manuscrito não editado. 17 Poucas semanas depois de Hoerde, por exemplo, escreve aos dirigentes de grupo: „A democracis social identifica na situação a causa da terrível miséria da massa em nossos tempos; espera libertação e redenção unicamente de uma mudança radical da situação exterior; mas não alcançará o seu objetivo. É certo que algumas coisas na vida social e política apodreceram e clamam por um reformador. No entanto, a fonte profunda de nossa felicidade está em nós mesmos, no fato de não sermos remidos e na escravizaçã de nossa própria alma“ (J. Kentenich, Carta aos dirigentes de grupo, 6.11.1919).
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Padre Kentenich está consciente de que a Mãe de Deus desde 18 de outubro de 1914 prepara este caminho. Ela quer transformar corações, dando novamente Cristo à luz nos que atrai a si „na forma que o novo tipo de cristão e a nova comunidade cristã de amanhã e depois de amanhã devem assumir“18. Esta experiência transmite-lhe confiança, embora por vezes sinta preocupações diante da grande tarefa19, expressa na formulação do objetivo da União Apostólica de Schoenstatt:  „Educação de leigos formados no espírito da Igreja através da aspiração ao maior grau possível de santidade, segundo o seu estado de vida.“

„Educação de leigos formados“ é um objetivo que a Igreja perdera de vista há séculos. „Ainda recordo os tempos iniciais do Movimento de Schoenstatt em que era difícil obter o reconhecimento do apostolado dos leigos no âmbito público da Igreja“20,  relata o Padre Kentenich mais tarde. Ele está convicto de que, num tempo de mutações com dimensões incomparáveis é necessária uma „mobilização total“ de todas as forças (cristãs), de todos os meios.“21 Isso significa: „Hoje, todos devem estar em prontidão, todos devem ser apóstolos“22. Por isso, a missão central de Schoenstatt é „a salvação da ideia do apostolado dos leigos...  Para a Igreja, por séculos, por milênios“23. 

O caminho que Padre Kentenich descreve ao definir o objetivo de Hoerde é verdadeiro trabalho pioneiro. Só decênios mais tarde o Concílio Vaticano II projeta novamente luz sobre a vocação dos leigos. Graças ao batismo e à crisma, os fiéis leigos estão capacitados e enviados para exercerem o apostolado em todos os âmbitos da sociedade. Esta missão é independente de qualquer participação no apostolado da hierarquia.  Ser fiel leigo é, portanto, um caminho vocacional específico, ao mesmo nível da vocação sacerdotal ou religiosa. „O amor de Cristo nos impele“ (1 Cor 5,14). A palavra de São Paulo que se tornou o lema da União Apostólica reflete esta vocação, totalmente nutrida pela graça batismal. Nas jornadas a seguir a Hoerde, o Padre Kentenich grava continuamente nos participantes uma definição que deve conscientizá-los do universalismo de sua vocação: „Um apóstolo
                                                 18 J. Kentenich, 2. 10. 1966, Alocução depois de uma consagraçã de famílias em Schenstatt, in: Propheta locutus est. Vorträge und Ansprachen von P.J. Kentenich aus seinen drei letzten Lebensjahren, Band X 1966, Berg Sion 1997, 217-224, 222. 19 Na carta acima citada aos dirigentes de grupo, escreve: „Devo confessar-lhes sinceramente, muitas vezes em horas silenciosas temo a obra que iniciamos. Mas a lembrança de nossa Mãe Celeste e a total confiança nela afasta rapida e totalmente todas as núvens negras. Uma reflexão ponderada sobre o crescimento até agora justifica a conclusão: nossa MTA quer utilizar-nos como instrumentos para a renovação do mundo. Também é grande a minha confiança nos nossos congregados que cairam na guerra. Certamente não vão negligenciar no céu ao que aspiraram tão heroicamente aqui na terra e os fundamentos que lançaram.“ (J. Kentenich, Carta aos dirigentes de grupo, 6.11.1919) 20 J. Kentenich, 23.2.1952, in: Brasilien-Terziat. Terciado dos padres palotinos em Santa Maria/Brasilien vom 16.2. - 5.3. 1952. 2º vol.: Vorträge 18 bis 33, 111. Ao abordar o apostolado dos leigos, Padre Kentenich resgata a visão de Vicente Pallotti sobre a colaboração ativa com a tarefa missionária da Igreja. Segundo os estatutos de 1919, o objetivo principal do „Movimento Apostólico de Schoenstatt“ consiste em „levar a ideia do apostolado aos mais amplos círculos“. . 21A.a.O, 110. 22A.a.O, 111 s. 23 J. Kentenich, 22.2.1952, in: Brasilien-Terziat. Terziat der Pallottinerpatres in Santa Maria/Brasilien vom 16.2. - 5.3. 1952. 2º vol. Band: Vorträge 18 bis 33, 55.
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leigo é uma pessoa que se empenha sempre e em todo o lugar, com todos os meios naturais e sobrenaturais, direta e indiretamente pela salvação das almas de outras pessoas“24. Um trecho da palestra de Fritz Ernst sobre o apóstolo Paulo mostra a que ponto a jornada de Hoerde foi sustentada por este „desejo missionário“: „Devemos empenhar-nos pelos nossos maiores bens, ser fermento na massa, com uma coragem igual à de Paulo no Areópago.“ O amor „capacitou-o a realizar coisas tão surpreendentes. Até onde ousou penetrar? Era o Império da Europa central que então alcançara sua culminância nos campos do comércio e movimento. Ali pulsava o impulso mundial, ali tremulavam as bandeiras de todas as nações... Também para nós, o dia de Damasco do ingresso na União deve representar uma virada na nossa vida.“25

A graça batismal é a raiz do apostolado dos leigos que deve ser continuamente ativada e desdobrada. Para o Padre Kentenich, é esta a tarefa central da aliança de amor com Maria a quem seu Filho confiou todas as suas irmãs e irmãos: „Eis aqui tua Mãe“ (Jo 19,27). No batismo, a Mãe de Deus atua como Educadora dos cristãos, começa a formá-los à imagem de Cristo ao longo de um processo de toda a vida. Maria, porém, só pode exercer a sua influência onde o batizado se abre à sua influência e colabora com ela. Em Schoenstatt, este é o caminho das „Contribuições para o capital de graças“. Com cada contribuição, nos libertamos de girar ao redor de nós mesmos e nos abrimos ao atuar da Mãe de Deus a fim de que ela possa gravar em nós a imagem de Cristo.

Os jovens da recém fundada União Apostólica já estavam conscientes disso. Um dirigente de grupo, Felix Evers, por exemplo, motiva seu grupo numa carta: „Que tal oferecermos-lhe (à Mãe de Deus) todo o trabalho em nossa personalidade, nossas lutas e sofrimentos e nos entregarmos inteiramente a ela como seus instrumentos, sem pensar continuamente no nosso próprio eu...? Podem ser pequeninas coisas, quando sinto vontade de fumar, esperar alguns minutos ou renunciar por um dia. Ser cortês para com os outros nos sábados, à mesa comer lentamente, etc.“26 Evers continua dizendo que a Mãe de Deus não fará nada com tanto gosto como conduzi-los ao seu Filho.

Qual é então, concretamente, o perfil deste „novo cristão“, o perfil de Hoerde? Quais as forças motivadoras que podemos descobrir e que são importantes também para nós, hoje?

4 O perfil do „tipo de Hoerde“ então e hoje

Da quantidade dos aspectos suscetíveis de serem observados, escolhi três que contemplaremos mais de perto:

O tipo de Hoerde   a personalidade consciente do seu valor e de sua missão, que, partindo de uma forte segurança interior é capaz de aspirar ao mais elevado grau.  Padre Kentenich mostrou aos jovens desde o início que o acontecimento de Hoerde era obra deles e ele se contataria em os apoiar. Sim, deixou até perceber que só participaria do trabalho
                                                 24 F. Ernst, A importância da jornada de Hoerde 1919 para o Movimento Apostólico de Schoenstatt. Recordações e reflexões de um participante, Paderborn 1959, 16 25 Revista MTA de 15.12.1919, 23-27. 26 Revista MTA de 15.2.1920, p. 60ss. Destaque não contido no texto original.
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na medida em que eles demonstrassem autonomia e sentido de responsabilidade27. Assim era também a atitude dos dirigentes: „A União sou eu.“ Esta autonomia tem uma dimensão profunda. É o assim chamado ideal pessoal, o IP. Padre Kentenich estava convicto da vocação individual de cada pessoa que se revela na estrutura da sua personalidade, na história de sua vida, nos seus lados fortes e fracos. Ajudar cada um a encontrar o seu IP era a condução à verdadeira „autonomia“ que Padre Kentenich dava aos jovens. Um testemunho a este respeito diz: „O IP foi para nós como um dom, como uma descoberta. Até altas horas da noite lutamos para encontrar a devida fórmula. Como estamos gratos ao Pe. Kentenich, até hoje, por ele ter sacrificado horas e horas para nos ajudar na descoberta e formulação do IP.“28
O IP é um ideal da personalidade – a forma original em que eu, na força da graça batismal, represento a personalidade de Cristo. O IP descreve, igualmente, a missão original que Cristo quer realizar através de mim, e que me dá consciência de valor“ „como pertença total e singular da Mãe e representação original de Cristo neste mundo... Ele me dá tanta confiança que quer comunicar-se aos outros através de minha boca e de minhas mãos. Por isso me torno precioso para ele. Concretamente, me torno um santo!“ anota um jovem de nosso Movimento em seu diário antes de falecer, vitimado pelo câncer, em 1995.  O IP não se desdobra antes de tudo através da reflexão e da meditação, mas na vida. Cresce na medida em que me vinculo a verdades, vivências, pessoas, lugares, coisas que se tornam „minhas“, que tornam minha personalidade mais aberta, mais rica, dotada de mais perfil. Em Schoenstatt esta meditação da vida é o exercício espiritual essencial desde o início. De que forma, quando, onde e através de quem Deus me interpelou hoje pessoalmente? Surge assim um organismo de vinculações „capaz de radicar a alma profundamente em Deus e de lhe conferir uma irremovível firmeza e um singular dinamismo religioso“29.  Desenvolve-se uma vigorosa segurança interior, uma identidade forte, importante, justamente na fluidez de nossa sociedade. Trata-se de um carisma específico que a Mãe de Deus concede no Santuário como Educadora da nova personalidade: abrigo em mim mesmo, em Deus, mas também no mundo e no momento presente. O interior de quem sentiu sua inflamabilidade interior despertada pelo IP e que foi interiormente inflamado, transforma-se:  O „tipo de Hoerde“ é um tipo que não se move ao longo do limite inferior do dever. Ele nivela suas exigências pela sua missão pessoal, exigindo o máximo de si, mesmo tratando-se aos olhos de outros de pequeníssimas coisas ou de coisas exageradamente grandes. É como numa grande paixão amorosa, em que o despertar do amor desperta um heroísmo capaz de entregar tudo. Também neste sentido vale: „O amor de Cristo nos impulsiona“ (2 Cor 5,14). Padre Kentenich diz: „A corrente que representamos na Igreja deve ser uma corrente de magnanimitas“30, uma corrente de generosidade. Poderíamos citar alguns exemplos neste sentido da geração de Hoerde, dos quais também faz parte José Engling que pertenceria a esta geração se não tivesse caído pouco antes. Ele se empenhou heroicamente pelos seus camaradas durante a guerra no sentido de seu IP „Ser tudo
                                                 27 „Todo o movimento é obra sua e assim deve permanecer. Eu pretendo ajudá-los unicamente com conselhos e empenho... Se estivessem plenamente e inteiramente perpassados pela responsabilidade pelos seus grupos como o estavam os dirigentes de nossa congregatio militaris, eu poderia participar mais do trabalho sem precisar temer estar paralisando por isso sua autonomia e sua consciência de responsabilidade. Esperemos que esse momento chegue em breve“ (Carta aos dirigentes de grupo, 6.11.1919). 28 F. Ernst, A importância..., 24. 29 J. Kentenich em carta de 15.8.1965. Fonte não publicada. 30 J. Kentenich, 16.10.1947, in: Estratégia da aliança de amor. Vorträge und Begleitbriefe der Oktoberwoche 1947, hrsg. und bearbeitet von P. Heinrich Hug, Vallendar-Schönstatt 1997, 172.
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para todos e inteiramente propriedade de Maria“. „Fica, camarada, eu vou no teu lugar!“ é uma das palavras mais conhecidas de Engling. A força de uma missão pessoal!

Estes „tipos de Hoerde“ encontram-se em todo o lugar onde pessoas descobrem, na aliança de amor, a si mesmas e sua missão pessoal e se torna realidade a palavra: „Seus corações se inflamaram!“31 Um jovem está tirando um curso sobre „Desenvolvimento durável“ em Uppsala / Suécia e em Schoenstatt ficou fascinado com a Santidade de todos os dias. „Eu quero ser cristão no dia a dia e Schoenstatt é para mim a chave para tal“, diz. Concretamente, isso também significa para ele o respeito pela criação: empenho pela preservação climática. Em vez de tomar um avião de Upsala a Schoenstatt, a fim de participar de um evento, ele viaja 24 horas de ônibus. Sua equipe necessita de vários dias de viagem de carro para chegar à conferência sobre o clima em Marrakesch. Ele suporta os incômodos com naturalidade e serenidade porque fazem parte de sua missão.  Uma estudante que decidiu viver o ideal da pureza antes do matrimônio confessa-o com toda a simplicidade. Um dos seus colegas de estudo, com uma atitude totalmente diferente, aborda várias vezes com ela o tema, porque quer saber o que a moveu a essa decisão. Por fim, e para sua surpresa, diz-lhe que devido a essa espera até ao casamento ela irradia „uma grande felicidade“, uma „alegria de viver“, uma „ingenuidade“, uma „aceitação total e radical“ que a diferencia de todas as outras mulheres. E ainda: „Tu vives uma felicidade que eu nunca poderei voltar a experimentar.“  Tipos de Hoerde então e hoje são pessoas com uma identidade forte que fazem a si mesmo exigências com entusiasmo, a fim de permanecerem em contato com o que consideram um valor. Pessoas que percorrem o seu caminho sem desvalorizar os que vivem de outra forma. Existe um idealismo que se irradia sem perseguir essa determinada intenção e justamente por isso transmite a experiência de valores atraentes. O filósofo Spaemann escreveu certa vez que a imoralidade consiste na „atitude daquele para quem nada é precioso“32. O Padre Kentenich expressa-o positivamente: Trata-se de um „novo princípio de moral“33 que toma como medida o amor. „Eu faço sempre o que dá alegria ao Pai“ (cf. Jo 8,29). „O amor de Cristo nos impulsiona.“ (2 Cor 5,14).

Não queremos partir desta jornada sem que a Mãe de Deus nos conceda novamente no Santuário esta radicação em nosso ideal pessoal, em nossa missão pessoal. Deixemos que ela nos mostre mais claramente nossa missão pessoal que inflama em nós este fogo da magnanimidade. Assim, tudo muda.

Uma segunda descrição:

O tipo de Hoerde é  a personalidade amadurecida que contribui para configurar a sociedade „a partir do interior“ através de uma autoeducação consequente

Numa carta aos dirigentes após a jornada de Hoerde, Padre Kentenich descreve a situação histórica, o desenraizamento psíquico das pessoas devido à „guerra e à revolução. Ambos
                                                 31J. Kentenich, Primeiro Documento de Fundação, in: Schönstatt, Die Gründungsurkunden, (Schönstatt-Verlag) Vallendar 71995, 24. 32R. Spaemann, Felicidade e benevolência, Stuttgart 1989, 224. 33 J. Kentenich 12.6.1966, "Sermão da Montanha“ para União das mãe e União feminina, in: Prophetalocutus est, Band VI 1966, Berg Sion 1987, p. 283-309, 295.
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provocaram um aumento desmedido da superficialidade e extroversão... E em meio a este caos nós definimos um programa idêntico a uma solene proclamação da defesa da vida interior“34. Esta palavra da „defesa da vida interior“ não deve ser vista isoladamente. O cultivo de nossa vida interior, em última análise, também está a serviço de „construir um mundo novo e de o colocar aos pés de Deus, de participar da grande missão da querida Mãe de Deus nos tempos de hoje“35. No entanto, este caminho para a edificação da nova ordem social exige que solucionemos no microcosmo da nossa própria personalidade as grandes questões atuais. Para nosso Fundador, a interpretação da situação histórica e a interpretação dos processos psíquicos estão interiormente relacionados, como já o vivenciaram os jovens da geração de Hoerde. Um deles escreve: „Sua análise do tempo era clara e credível e também interpretava com segurança a situação de nossos corações. Vivenciávamos que seu olhar penetrava nosso interior e nos compreendia e por isso estávamos dispostos a escutar e a acompanhá-lo... As palestras nunca nos deixavam pessimistas, mas sim mais atentos, mais clarividentes, mais corajosos.“36

Num tempo em que as organizações católicas só funcionavam relativamente, Padre Kentenich realiza graças a Hoerde um novo início que já reage às mutações futuras. Constrói Schoenstatt para um futuro em que tudo dependerá da fortaleza da personalidade de cada cristão, porque a Igreja perderá a sua influência enquanto instituição. No contexto de Hoerde fala, portanto, da renúncia a um „movimento de massa“37, e defende „um trabalho de minúcia direcionado ao objetivo“38, „trabalho psíquico de minúcia“ que visa „uma profunda renovação moral e religiosa do indivíduo e de toda a humanidade cultivada“39. Nestes anos iniciais, ele realiza esse tipo de „trabalho psíquico individual“ com cada um dos dirigentes, a fim de os introduzir ao uso correto dos meios de educação.  Mais tarde, afirma que só pela reação dos jovens se conscientizou do caráter de novidade deste caminho de educação que carregava no seu interior.40 Esta novidade de nosso sistema de educação até hoje ainda não é compreendida na Igreja. Trata-se de uma contínua interação entre meios psicológicos e pedagógicos altamente eficazes e a luta constante por uma doação cada vez maior ao Espírito Santo, o verdadeiro Educador. Ao trabalharmos nossa personalidade, movemos a Mãe de Deus a implorar o Espírito Santo sobre nós.41 Este é o segundo dom carismático que a Mãe de Deus concede no Santuário: transformação interior. Trata-se de uma profunda transformação interior que só o Espírito Santo pode alcançar em nós, atuando a partir do interior, adaptando-se à nossa natureza individual, sanando-a e
                                                 34J. Kentenich, Carta aos dirigentes de grupo, 6.11.1919. 35J. Kentenich, 17.10.1967, Schönstatts Zukunftsvision. Vorträge der Oktoberwoche 1967, Prophetalocutus est Sonderband Bd. 18, 187. 36 F. Ernst, A importância..., 19. 37J. Kentenich, Carta aos dirigentes de grupo, 6.11.1919. 38 Ibid. 39 Ibid. 40 Mais tarde, Padre Kentenich conta que chamou a sua atenção a forte reação dos jovens às palestras em que ele apresentava a devoção a Maria em relação com a autoeducação, com o temperamento de cada um, com as paixões dominantes, etc. Um dos participantes, Fritz Ernst, escreveu mais tarde a este respeito que eles haviam „vivenciado o sentido e a importância da devoção a Maria“ (portanto não somente compreendido no nível intelectual) e nossa atenção deve ter sido particularmente grande. À noite, o sr. Padre Kentenich disse-nos que lera nos nossos olhos o que devia dizer-nos. Nas pausas ajoelhavamos na capela em oração silenciosa“ (F. Ernst, A importância..., 16s.). 41 P. Kentenich o explicou assim a famílias nos EUA: „Dissemos... ‚Sim, Mãe de Deus, queremos autoeducarnos, mas não podemos fazê-lo sem ti. Por isso te pedimos: Deves estabelecer-te aqui. Deves impulsionar o início de nossa autoeducação. Mas também te pedimos que não o faças sem nós. Queremos oferecer-te tudo o que fizermos no sentido da autoeducação para que te estabeleças aqui como Educadora.’“ (J. Kentenich, 13.9.1953, in: Pater Josef Kentenich, Familie - Dienst am Leben. Einkehrtage für Familien USA 1953, Vallendar-Schönstatt 1994, 217-232, 229.)
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santificando-a. Nossa colaboração consiste nas „tentativas de nossa autoeducação“42. Padre Kentenich explica esta interação com a Mãe de Deus de forma bem realista a famílias: „Precisamos dizer-lhe: ‚Toma tu minha educação em mãos. Olha nossa boa vontade, eu estou tantas vezes irritada e nervosa‘ ... Então não basta pedir apenas: ‚Mãe de Deus ajuda-me a ficar mais calmo‘. A Mãe de Deus diz: ‚Primeiro faz tu um esforço para me dares essa alegria e te dominares. Depois traze-me essas pequenas tentativas e então eu cuidarei que te tornes uma personalidades íntegra.‘“43
 O Concílio Vaticano II designará mais tarde a vocação dos batizados como santificação do mundo em todos os âmbitos „a partir do interior“ (LG 31). Decênios antes, Padre Kentenich já expressara o mesmo com o conceito de „defesa da vida interior“ e esta vocação é mais atual do que nunca pra nós como Movimento de fieis leigos.

Talvez seja belo nestes dias perguntar-se também, pessoalmente: O que mudou em mim desde que pertenço a Schoenstatt?  Onde pede o Espírito Santo a minha colaboração a fim de me formar mais segundo o amor? Onde quero começar em minha autoeducação a fim de prestar minha colaboração para renovar o mundo?

Uma última tese:

 o tipo de Hoerde é o novo cristão que cria espaço para Cristo no mundo de hoje Para obter uma análise exaustiva do apostolado segundo o espírito de Hoerde, é oportuno lançar novamente um olhar a José Engling, em cuja pessoa podemos reconhecer o que mais tarde foi descrito durante a jornada de Hoerde na já citada palestra sobre São Paulo. Ali se diz: „O foco principal do apostolado para nós, que vivemos em meio à movimentação das grandes metrópoles, é, em última análise, o bom exemplo. O mundo não foi convertido apenas graças à pregação dos apóstolos, mas também graças ao exemplo de virtudes dos cristãos... palavras ensinam, exemplos arrastam.“44

José Engling viveu este apostolado do bom exemplo. Em 18 de outubro de 1917 escreve ao seu amigo Carlos Klement: „Uma ferida que sinto sempre de novo como estudante missionário é nossa falta de espírito de camaradagem, de sociabilidade. Tanto eu como a maioria dentre nós, até agora, retiramo-nos das conversas dos camaradas para ler. Agora reconheci isso e quero e devo agir segundo o reconhecimento. Quero tornar-me um santo, um santo moderno, um apóstolo dos nossos dias.“45  José Engling tem o ardente desejo de comunicar aos seus camaradas nos campos de batalha o que recebeu pessoalmente como ajuda, mas sem o impor.  Pensemos, por exemplo no seu encontro com o estudante de artes Kunibert Riedinger que fica impressionado com a grande serenidade interior de José Engling, sua disposição em ajudar, sua camaradagem. Riedinger levava uma vida superficial e há muito que não praticava a religião. O encontro com José toca-o a ponto de ele lhe contar toda a sua vida com todos os desvios e enfim desejar confessar-se e começar de novo. José cultiva uma relação de amizade com ele, até Riedinger ir de licença, voltar à sua antiga vida e contrair uma doença mortal, provavelmente num motel. Ao saber a notícia, José procura imediatamente o endereço do seu amigo, mas infelizmente o portador da mensagem perdeu a carta. Quando todas as tentativas                                                  42 J. Kentenich, 13.9.1953, in: Pater Josef Kentenich, Familie - Dienst am Leben. Einkehrtage für Familien USA 1953, Vallendar-Schönstatt 1994, 217-232, 210. 43 Ibid. 44 Revista MTA vom 15.12.1919, 23-27. 45 J. Engling, Cartas e anotações do diário, Vol. II, Manuscrito, 82.
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para recuperar o endereço não resultam, José reforça suas contribuições para o capital de graças com o pedido que a Mãe de Deus ajude o camarada, para ele poder restituir devidamente a sua vida nas mãos de Deus. Não o move a desilusão com os desvios de Riedinger, mas a compaixão e o desejo de o ajudar. Decênios mais tarde, Padre Kentenich afirma sobre o apostolado dos fieis leigos: „Nosso ser deve atuar, hoje. Para empregar uma imagem drástica, já não devemos nem queremos amarrar uma corda ao redor do pescoço dos outros a fim de os arrastar para dentro da Igreja“46. Antigamente, corria-se o risco de querer transformar as pessoas em cristão a qualquer preço. Graças ao concílio, a Igreja agora tem outra concepção de apostolado, aliás a concepção que nós em Schoenstatt temos desde o início: vimos sempre em primeiro plano o apostolado do ser sem negligenciar o apostolado da ação“47. Em Schoenstatt, o apostolado da ação tem até uma multiplicidade maior, porque muitos empenham-se individualmente como fieis leigos e segundo sua missão pessoal e seu profissionalismo nos diversos ambientes da sociedade. 

A ação apostólica, porém, é unicamente o „meio“, o portador do que a pessoa, em última análise, deve alcançar através dela, ou seja, da graça redentora de Cristo. Padre Kentenich enfatiza: „Antes de tudo precisarmos dar testemunho de Deus, de Cristo mediante nosso ser redimido... Precisamos ser schoenstatianos redimidos.“48 As palavras de Nietzsche, que „seus discípulos deveriam parecer mais remidos“ 49 para que eu aprender a crer no seu Redentor, comprovam que é este o cerne do testemunho. Naturalmente, a graça de redenção não é um travesseiro para repouso. Nosso Fundador ensinanos a rezar na oração da manhã – na aurora de um novo tempo: „Faze-nos arder como labaredas... lutar como testemunhas da Redenção“50. Ser cristão não é „lançar um olhar a um mundo de castelos nas nuvens“51, „precisamos intervir criativamente no caos do tempo atual“52, como fieis leigos, precisamos formar o mundo segundo os planos de Deus. A personalidade inteiramente apostólica, diz o Padre Kentenich, „reflete sobre as ideias divinas, examina o que Deus quer e como ele quer ver formado o rosto atual da história. Segue a ‚lei da porta aberta‘, já que o bom Deus nos quer mostrar continuamente, através das circunstâncias, os seus pensamentos e a forma como quer formar, através de nós a história e a vida atual.“53 Buscar portas abertas, aprender a interpretar as indicações de Deus e captá-las atentamente foi nossa abordagem inicial, foi a competição entre nosso Fundador e o Deus da vida que tornaram possível o acontecimento de Hoerde. É o espírito apostólico que transforma o mundo. Hoje, é a nossa vez, deixem-nos inflamar pelo fogo no coração de nosso Fundador para que também nós nos tornemos inteiramente apóstolos dos quais se possa dizer: „O amor de Cristo nos impulsiona“ (1 Cor 5,14).

Hoje não estaríamos aqui se não tivéssemos encontrado pelo menos um cristão ou uma cristã em cujo rosto tivéssemos reconhecido algo da glória de Cristo, da glória da Mãe de Deus. Perguntemo-nos, pessoalmente: Para quem já pude representar um encontro com Deus? Onde senti que Deus quer usar-me para transformar e melhorar alguma coisa, para renovar algo neste mundo, no ambiente em que vivo?                                                  46 J. Kentenich, 8. 6.1966, Retiro para Irmãs de Maria de Schoenstatt, manuscrito não editado. 47 Ibid. 48 Ibid. 49 F. Nietzsche, Also sprach Zarathustra, Kap. 37. No original lê-se: „Deveriam cantar-me cantos melhores para que eu aprenda a acreditar no seu redentor: seus discípulos deveriam parecer mais redimidos.“ 50 Rumo ao céu, Orações do P. Kentenich em Dachau, Schönstatt-Vallendar 1996, 15. 51J. Kentenich, Que se façam novos homens. Eine pädagogische Religionspsychologie (Pädagogische Tagung 1951), Vallendar-Schönstatt 1971, 129 s. 52 Ibid. 130. 53 Ibid. 131.
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5 Um olhar ao futuro: Um Movimento de fieis leigos que transforma o mundo

Referindo-se aos inícios do Movimento que agora recordamos na perspectiva do acontecimento de Hoerde, Padre Kentenich afirma: „Desde o início tivemos em vista um grande duplo objetivo: a originalidade e o universalismo. Por originalidade, entendemos nova personalidade numa nova comunidade! Por universalismo, o universalismo de todo o movimento!  Estas são as duas ideias diretrizes que tivemos em vista (como missão), à semelhança da forma como Paulo perseverou na missão que recebera de fazer de todas as pessoas membros de Cristo“54.

Acabamos de observar mais de perto a originalidade do novo caminho, do caminho do fiel leigo que amadurece na escola de educação da MTA, mediante os três carismas, as três graças de romaria até se tornar um apóstolo leigo. 

Padre Kentenich diz ainda que ao preparar os estatutos para a União Apostólica já refletia: „Isto não basta, o universalismo deve ser salvaguardado! Por isso preparei o projeto de estatutos da Liga. E em 1920 ambos foram impressos e publicados pela primeira vez.“55 Com a fundação da Liga apostólica que se estende até ao movimento popular e de romarias abrangemos o mundo inteiro da vida cristã.  Para garantir a autenticidade do testemunho cristão nesta amplitude de apostolado era necessário estruturar também as comunidades nucleares. Na história posterior de Schoenstatt acontece a distinção das Uniões e a fundação dos institutos seculares que, tal como as uniões (com exceção das comunidades sacerdotais) são comunidades de leigos. Todos os institutos e uniões – também as comunidades sacerdotais – „são chamadas a prestar serviços de escuteis e pioneiros para uma nova ascese e pedagogia laical“56 e a serem alma de um movimento mundial de leigos.
 Para finalizar uma palavra de nosso Pai e Fundador que apontas a dimensões em que ele via a missão apostólica de Schoenstatt: apóstolos não devem ser somente aqueles que pertencem organizativamente a uma de nossas comunidades ou ao movimento. Não, milhões de pessoas de todos os continentes devem ser inflamadas mediante o contato com um schoenstatiano e arder pela maravilhosa vocação cristã de trazer presente no mundo o amor de Deus.  Em palavras de nosso Fundador: „Queremos criar um mundo apostolicamente dinâmico... Todos os que entram em contato conosco não devem ser apenas pessoalmente tocados pelo divino, mas transformados em apóstolos. Movimento apostólico! Isto deve bastar-lhes!“57 

                                                 54J.Kentenich, 4.1.1951, in: J. Kentenich, Organização e forma de vida da Liga Apostólica de Schoenstatt, Jornada para dirigentes, Janeiro 1951, manuscrito não editado. 55 Ibid. 56J. Kentenich, 31. Mai 1949, unveröffentlichtes Manuskript. 57 J. Kentenich, 19.10.1945, Hier war Gott. Oktoberwoche 1945. Bearbeitet von P. Heinrich M. Hug, 1999, 333.